Todos os dias nós nos surpreendemos com os nossos pequenos. Embora no início não entendam o mundo ao redor, suas reações são rápidas e crescentes. As novidades nunca param, as mudanças nos encantam. A trajetória da criança desde a sua dependência total até a independência se apoia nas condições familiares e sociais, principalmente da escola e do lar, os ambientes em que mais interage.
O desenvolvimento saudável dessa trajetória precisa do respeito aos diversos momentos da criança. Por isso, a estimulação precoce é um tema que tem causado tanto debate em pais e educadores. Há preocupação com a infância, principalmente no modo de vida da sociedade atual, apressada, sempre com velocidade. Tudo ocorre cedo demais, acompanhando o ritmo do mundo digital e competitivo, e por isso a intelectualização, por vezes, também acaba sendo imputada mais cedo do que deveria.
Mas afinal, o que é estimulação precoce?
A estimulação precoce, como o nome já diz, desconsidera desde o início os diversos momentos e fases de cada criança, taxando-a como unicamente receptora, ou seja, como se o aprendizado fosse apenas transmissivo, não afetivo, independente dos tempos da infância, das curiosidades, necessidades, questionamentos e hipóteses.
Os malefícios da estimulação precoce
Claro, os bebês possuem grande potencial. Queremos um desenvolvimento integral, tanto emocional quanto intelectualmente para os nossos filhos. Queremos aproveitar ao máximo o aprendizado de forma adequada. Para isso, precisamos levar em consideração o contexto infantil, a lógica pela qual aprendem, não apenas guiados pela expectativa adulta. Evitar a alfabetização antecipada, por exemplo, não prejudicaria o rendimento dos pequenos – ao contrário, para aprender a ler e escrever é necessário ter as etapas anteriores idealmente compreendidas.
É importante lembrar que a primeira infância é um período primordial para o desenvolvimento humano. Quando os pequenos interagem de forma lúdica, participam de estímulos de acordo com o seu período de aprendizagem, na realidade é o cumprimento previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente: o direito à brincadeira com qualidade.
De acordo com a especialista na primeira infância Cibele Witcel, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, a escolarização precoce coloca a brincadeira em segundo plano, de forma que o corpo começa a ser visto como parte separada da mente: a criança passa o inteiro tempo na sala de aula, tendo apenas um intervalo para brincar, que é visto como libertação. É um espaço limitado, que tolhe a curiosidade e criatividade, as expressões corporais e interações, o que acaba resultando em defasagens dos pré-adolescentes durante o Ensino Fundamental.
É verdade que os pequeninos nascem maravilhando-se com a beleza do mundo, com a curiosidade necessária para aprender. Como podemos, então, auxiliar nesse desenvolvimento?
Conheça as fases do aprendizado infantil
Jean Piaget é uma das nossas grandes referências pedagógicas. O psicólogo, quando trabalhou em uma escola, ficou encantado com a forma diferenciada do raciocínio das crianças, bastante divergente de como um adulto chega a conclusões. De acordo com Piaget, a criança constrói e reconstrói o pensamento, acomodando e assimilando os aprendizados.
Jean Piaget nomeou os estágios do pensamento infantil:
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Estágio sensório-motor
Essa fase é desde o nascimento até os dois anos de idade. O início das sensações, da coordenação motora, da consciência dos movimentos e do ambiente ao redor. A criança aprende o que é o outro, diferenciando os objetos e começando a vincular seus pensamentos ao concreto.
Os movimentos ainda são sem propósito, mas conseguirá logo segurar, esticar-se, alcançar, apertar. Nessa fase, quando algo não está ao alcance da sua visão, ele acha que deixou de existir – por isso chora quando não encontra a mãe.
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Estágio simbólico ou pré-operatório
Essa fase vai desde os dois anos até os sete. A criança é egocêntrica, pensa apenas nela mesma, mas está aprendendo a socialização. Aprende a linguagem, a fala, os desenhos, formas de representação, cores… Por isso, começam a interpretar, criar imagens, aguçar ainda mais a criatividade e imaginação. Sua mente voa, por isso, brincadeiras que estimulam esse lado criativo são muito importantes. A lógica está sendo formada, os números e quantidades ainda não dizem muita coisa.
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Estágio conceptual ou operário concreto
Essa fase é desde os sete anos até os onze anos de idade. Ainda existe egocentrismo, dificuldade de empatia e pensamentos mais baseados em acomodações sobre a rotina do que assimilações. Mesmo assim, há pensamento lógico concreto ou abstrato, sentimentos de amor, felicidade, saudade, tristeza e outros que ainda não são compreendidos. Começa a distinção entre valores e quantidades.
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Estágio das operações formais
Inicia nos cerca de onze anos até a vida adulta, sendo o último estágio, de uma enorme fase transitória, com criação de ideias, hipóteses, teorias… Por isso conceitos problemáticos, que envolvem números ou precisam de soluções já são compreendidos. A linguagem, a comunicação e interações humanas são fundamentais. Começa a criação da empatia e há entendimento de outros pontos de vista.
O que fazer?
Mesmo que entendamos as fases das crianças, ainda assim nem sempre sabemos como lidar. Um dos nossos artigos que falam sobre o respeito às diversas etapas infantis, é a conversa sobre estimular a autonomia do filhote . Além disso, o conceito de Inteligências Múltiplas é um ótimo aliado na hora de identificar e respeitar as particularidades do pequeno.
Dicas infalíveis para conservar o aprendizado de acordo com a idade são:
- Conversar com a criança, compreendendo a sua mente e emoções, bem como seus gostos e talentos;
- Dar pequenas responsabilidades de acordo com a idade;
- Permitir que o pequeno solucione problemas e realize pequenas decisões;